Semiárido: um possível celeiro de matéria-prima para fitoterápicos
Assunto
será discutido na Reunião Regional da SBPC em Mossoró
(RN).
O semiárido brasileiro pode vir a ser um grande produtor
de matéria-prima para a indústria de medicamentos fitoterápicos.
Além da tradição secular do uso de plantas medicinais, cuja
eficácia científica vem sendo estudada intensamente por pesquisadores,
as características climáticas da região fazem com que muitas
plantas criem moléculas diferenciadas, com grande potencial
para o desenvolvimento de novos fitoterápicos.
“O estresse hídrico faz com que as plantas do semiárido tenham
maior potencial de produzir moléculas diferenciadas; mais
do que em outras regiões do País”, firma o médico Manoel
Odorico de Moraes, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará
(UFC). Moraes, que atua como pesquisador na área, fará uma
conferência sobre este assunto durante a Reunião Regional
da SBPC em Mossoró (RN). Promovido pela Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), o evento tem o objetivo
de discutir o desenvolvimento sustentável do semiárido brasileiro.
Ele explica que em condições normais o metabolismo de uma
planta produz reações químicas, como a fotossíntese, por
exemplo, que possibilitam o crescimento e a reprodução das
células. Ou seja, fornece as funções básicas para a vida
do organismo. Mas, quando a planta é submetida a algum tipo
de estresse, ela passa a produzir novos tipos de moléculas
para conseguir sobreviver. No caso do semiárido, o estresse
hídrico, provocado por longos períodos secos e chuvas ocasionais
concentradas em poucos meses do ano, é o que desencadeia
essa reação química.
Para Moraes, o semiárido possui todas as condições para abrigar
uma cadeia de produção de fitoterápicos: tradição popular
do uso de plantas medicinais, que facilita os estudos etinofarmacológicos;
e uma boa infraestrutura de pesquisa, com universidades e
pesquisadores atuantes na área. “O estímulo ao cultivo de
plantas medicinais poderá criar uma cadeia de produção bem-sucedida,
desde pequenos produtores até a manufatura”, acredita.
Na sua avaliação, uma política de incentivo ao produtor,
casada com as descobertas que vêm sendo feitas pelas instituições
de pesquisa da região, poderia alavancar esse processo. “Só
na Universidade Federal do Ceará temos cinco medicamentos
em fase de testes clínicos, que dentro de poucos anos poderão
ser comercializados”, conta o pesquisador. Um deles, que
está sendo patenteado, terá no mesmo medicamento ação anti-hipertensiva
e ansiolítica – algo inovador.
Mercado é o que não falta para justificar os investimentos
na área. Segundo Moraes, o segmento de fitoterápicos vem
crescendo de 8% a 10% ao ano no Brasil e já responde por
R$ 500 milhões dos R$ 9 bilhões de todos os medicamentos
vendido no País. “Além disso, temos uma grande mercado externo
para explorar, a exemplo dos Estados Unidos, Alemanha e China
que já são os maiores compradores de fitoterápico do Brasil”,
ressalta. “A exportação não precisa ser necessariamente do
produto manufaturado; pode ser da planta ou do extrato, o
que facilitaria o escoamento da produção via exportação”,
finaliza. Serviço – A conferência “Fitoterápicos: uma alternativa para
o desenvolvimento sustentável do semiárido” será proferida pelo prof. Manoel
Odorico Moraes, no dia 14 de abril, das 10h30 às 12h00, na Universidade Federal
Rural do Semi-Árido (UFERSA). Veja a programação do evento no site http://www.sbpcnet.org.br/mossoro/home/.